Mauricio Pochettino ainda não conquistou títulos pelo Tottenham, mas já conseguiu colocar o seu nome na história do clube. Afinal de contas, foi a partir de sua chegada ao já extinto White Hart Lane, em 2014, que os Spurs deram o tão aguardado salto: deixaram a faixa mediana da tabela, e a maldição de anos sem conseguir terminar a Premier League na frente do arquirrival Arsenal, para se colocarem de vez no grupo dos chamados ‘seis grandes’.
A evolução de seu trabalho é traduzida nas colocações do time na Premier League: em sua primeira temporada foi apenas o quinto, e desde então subiu: foi terceiro, segundo, terceiro de novo e se a sua última campanha terminou com o quarto posto, a posição é explicada por um grande feito histórico: o vice-campeonato na Champions League, o ponto mais alto que o Tottenham já conseguiu alcançar no principal certame europeu de clubes. Exatamente por isso, a expectativa só vem aumentando e, com isso, a pressão também cresceu.
Onde começaram as reclamações
O trabalho excelente em um clube cada vez mais estruturado, com estádio novo e um dos CT’s mais modernos do mundo, valorizou a figura de Pochettino, que chegou a ser cogitado no Manchester United e até Real Madrid. E foi justamente no seu melhor momento que o argentino fez uma cobrança para Daniel Levy, dono do Tottenham: os Spurs precisariam fazer, nesta temporada 2019-20, o que não vinham fazendo em anos anteriores. Contratar, reforçar o plantel.
A movimentação no mercado de transferências, contudo, não foi boa. Vieram três nomes principais, todos atletas que atuam na faixa do meio-campo: Ndombélé (€60 milhões), Ryan Sessegnon (€27 milhões) e Giovani Lo Celso, que chegou por empréstimo. Até o encerramento da janela de transferências dos clubes ingleses, o nome de Paulo Dybala, da Juventus, chegou a ser ventilado, mas o argentino acabou não vindo – e vai seguir mesmo em Turim.
Getty/GoalIncerteza em relação a Eriksen também irrita Pochettino (Fotos: Getty Images)
Grandes destaques da temporada histórica, terminada com o vice-campeonato europeu, Son, Dele Alli, Lucas Moura e Harry Kane continuaram, mas o clube não conseguiu segurar o bom lateral-direito Kieran Trippier, que rumou para o Atlético de Madrid. Christian Eriksen, vital para o time, já manifestou o desejo de sair e terá o destino resolvido nestas próximas horas. Ou seja: apesar dos pedidos de Pochettino, sua equipe não foi reforçada. E isso causou, evidentemente, descontentamento. Algo que, segundo o treinador, já foi conversado entre ele e Levy, com quem tem excelente relação pessoal.
Críticas e futuro em xeque
Mas o clima de insatisfação com o saldo das idas e vindas do mercado de transferências, aliado aos resultados mais recentes, demonstraram que a paciência em relação a Pochettino não é mais a mesma. Após derrota por 1 a 0 para o Newcastle, o próprio argentino revelou que o time ainda não está conseguindo formar a união vista nas temporadas anteriores.
“É preciso criar uma ligação muito forte, boa e dinâmica, e no momento a situação em nosso grupo está muito longe disso. O grupo ainda não está montado e precisamos buscar soluções”, afirmou após a única derrota até o momento. “Eu estou muito decepcionado com nossa performance”, decretou.
Boatos antes do derby londrino
As dúvidas, bem injustas, em relação ao trabalho de Pochettino ficaram marcantes ao ponto de colocar o seu futuro em jogo antes do clássico deste domingo (01), contra o Arsenal, pela quarta rodada da Premier League. O argentino não apenas desmentiu esta possibilidade, como garantiu, fazendo uma brincadeira com atualização de softwares, que a versão 6.0 de seu Tottenham seguirá em curso.
“Após cinco anos, agora eu começo a minha sexta temporada. Vocês sabem como nós trabalhamos neste verão para reconstruir e atualizar a cada temporada, com as versões 2.0, 3.0 e agora estamos na versão 6.0 do MP (Maurício Pochettino) software”, afirmou.
Empate contra o Arsenal: roteiro ruim, sensação boa
Uma vitória sobre o arquirrival, fora de casa, com certeza mudaria a sensação de dúvidas que cercam este Tottenham. E os Spurs estiveram muito perto dos três pontos: o jogo realizado neste domingo (01) foi emocionante, com Eriksen e Harry Kane abrindo 2 a 0 no primeiro tempo. Entretanto, o Arsenal cresceu, fez um segundo tempo emocionante e chegou ao empate. Apesar do roteiro da partida, a exibição de seu time fez devolver, ao menos a Pochettino, a esperança em um futuro melhor. Especialmente se Eriksen continuar.
“Acho que nós fomos muito bem, fomos muito sólidos e criamos muitas chances. Os primeiros 45 minutos foram excelentes, e eu fiquei um pouco envergonhado por termos sofrido um gol antes do intervalo”, afirmou para a Sky Sports. “Nós temos uma qualidade gigante e, a partir de amanhã (com o fechamento da janela de transferências em outros países da Europa), estaremos todos na mesma página. Precisamos esperar em relação ao Christian Eriksen, mas foi uma decisão correta colocá-lo para jogar hoje. Ele atuou muito bem e ajudou o time a somar um ponto aqui”.
Getty ImagesEriksen foi titular e possível permanência anima Pochettino (Foto: Getty Images)
“Estou muito otimista e feliz de trabalhar com este elenco e lutar por grandes coisas pelo clube. O que aconteceu no passado já aconteceu e não dá para consertar. Agora é desenhar uma linha forte para o futuro. É importante seguir adiante e aprender com o passado”, completou.
Até o momento, o Tottenham faz o seu segundo pior início de Premier League sob o comando de Pochettino: uma vitória, uma derrota e dois empates. Isso apenas nos números, uma vez que desta vez, ao contrário do que houve anteriormente, os Spurs enfrentaram nestas quatro primeiras rodadas adversários do “Big 6”: empataram fora de casa contra Manchester City e , agora, Arsenal. Resultados bons.
A impressão geral é de que o sonho de voltar a conquistar uma taça, algo que não acontece desde 2008 (quando levantou a Copa da Liga Inglesa), aliado às grandes expectativas que vieram com o excelente trabalho de Pochettino, motivaram toda esta ansiedade vista logo no início da temporada. É o ônus de ser, hoje, uma das seis maiores potências da badalada Premier League.