Lionel Messi fica no Barcelona. O atacante argentino foi o protagonista total da imprensa futebolística mundial nos últimos dias e escolheu a Goal para romper seu silêncio e anunciar que seguirá no Camp Nou na próxima temporada. Afinal, Messi não é só jogador, mas também pai, filho e marido.
O argentino e sua família pensaram muito durante os dias em que se discutiu a saída da cidade em que criaram raízes. Seus filhos mais velhos, Thiago e Mateo, foram conscientes de tudo o que se passava ao redor, e entenderam que teriam que trocar de colégio e deixar amigos para trás.
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"Quando comuniquei isto para minha esposa e meus filhos foi um drama bárbaro. Toda a família chorando, meus filhos não queriam sair de Barcelona ou mudar de colégio. Todo este tempo foi duro para todos. Sabia com clareza o que queria, já havia entendido e dito. Minha mulher, com a alma dolorida, me apoiava e acompanhava", revelou o emocionado camisa 10 em entrevista exclusiva à Goal.
O mais afetado dos filhos do astro foi Thiago (sete anos), o primogênito, que tinha mais noção de toda a situação. "Sim, Mateo ainda é pequeno (quatro anos) e não entende o que significa ir para outro lugar e refazer a vida em outra parte. Thiago sim, é mais velho. Escutou algo na televisão, ficou curioso e fazia perguntas. Não queria nem saber de irmos, ter que ir a uma nova escola ou fazer novos amigos. Chorava e dizia, 'não, não vamos embora', foi bem duro. Era compreensível. Falou isso tudo para mim. É muito difícil tomar uma decisão", explicou.
Apesar de todos os rumores, as contratações e a bola, os jogadores seguem sendo humanos. E a história de Messi é mais um exemplo disto.
Veja e entrevista completa:
Goal: Por que você demorou tanto tempo para acabar com esse silêncio e se manifestar?
Messi: Primeiro porque depois da derrota em Lisboa foi muito difícil. Sabíamos que era um rival muito difícil, mas não que ia terminar daquela maneira, com essa imagem tão pobre para o clube e para o barcelonismo. Deixamos uma imagem muito ruim. Eu estava mal, não tinha vontade de nada. Queria que o tempo passasse para depois explicar tudo.
Goal: Por que disse ao Barça que poderia ir embora?
Messi: Disse ao clube e, principalmente, ao presidente que eu queria ir embora. Estou falando isso durante todo o ano. Achei que era o momento de dar um passo ao lado. Achei que o clube necessitava mais de gente jovem, de gente nova, e achei que minha etapa no Barcelona havia terminado, sentindo muito porque sempre disse que queria terminar minha carreira aqui. Foi um ano muito complicado, sofri muito nos treinos, nos jogos e no vestiário. Foi tudo muito difícil e chegou um momento em que planejei buscar novos objetivos, novos ares. Não foi por causa da derrota na Champions para o Bayern, já estava pensando nessa decisão fazia tempo. Eu disse isso ao presidente e bom, o presidente sempre disse que ao fim da temporada eu podia decidir se queria ir ou ficar, mas no fim das contas ele não cumpriu sua palavra.
Goal: Você se sentiu sozinho?
Messi: Não... não me senti sozinho. Do meu lado estiveram as mesmas pessoas de sempre. Isso me basta e me fortalece. Mas me senti mal por coisas que escutei das pessoas, do jornalismo, de pessoas colocando em dúvida meu barcelonismo e dizendo coisas que acho que eu não merecia. Isso também serviu para ver quem é quem. Esse mundo do futebol é muito difícil e tem muita gente falsa. Isso tudo que aconteceu serviu para reconhecer muita gente falsa por quem eu tinha consideração. Doeu muito quando duvidaram do meu amor por este clube. Por mais que eu vá embora ou que fique, meu amor pelo Barcelona não vai mudar nunca.
Goal: Ouvimos de tudo. O fator dinheiro, os amigos de Messi. O que foi que mais te machucou depois de 20 anos defendendo a camisa do Barça?
Messi: Um pouco de tudo, sobre os amigos de Messi, sobre dinheiro. Muitas coisas que disseram me machucaram. Sempre coloquei o clube à frente de qualquer coisa. Tive a chance de ir embora do Barça muitas vezes. Dinheiro? Todos os anos pude ir embora e ganhar mais dinheiro do que ganhei no Barcelona. Sempre disse que essa era a minha casa e era o que eu sentia e o que eu sinto. Lugar melhor que aqui é difícil. Eu sentia que precisava de uma mudança e novos objetivos, coisas novas.
Goal: No fim, é muito difícil renunciar a vinte anos, a toda uma vida, a uma família que está em Barcelona, uma cidade... E isso é o que pesa mais na hora de tomar uma decisão... Porque entendo que, no fim, vai ficar no Barcelona. Segue no Barcelona...
Messi: Claro que foi muito difícil decidir. A decisão não veio com o resultado do Bayern, veio depois de muitas coisas. Sempre disse que queria terminar minha carreira aqui e sempre disse que queria ficar aqui. Que queria um projeto vencedor e ganhar títulos com o clube para seguir aumentando a lenda do Barcelona em nível de títulos. E a verdade é que faz tempo que não há projeto nem nada, estão fazendo malabarismo e vão tapando buracos à medida que as coisas acontecem. Como eu disse antes, sempre pensei no bem estar da minha família e do clube.
Goal: O que aconteceu quando você comunicou sua família que poderia ir embora do Barcelona?
Messi: Quando comuniquei isto para minha esposa e meus filhos foi um drama bárbaro. Toda a família chorando, meus filhos não queriam sair de Barcelona ou mudar de colégio. Olhei mais adiante e quero competir no nível máximo, ganhar títulos, disputar a Champions. Você pode ganhar ou perder a Champions, porque é muito difícil, mas é preciso competir. Pelo menos disputá-la e não deixar acontecer o que aconteceu contra Roma, Liverpool ou Bayern. Tudo isso me levou a tomar essa decisão que não levei adiante. Voltamos ao início... Eu pensei e estávamos seguros que eu estava livre, o presidente sempre disse que no fim da temporada eu poderia decidir se ficava ou não e agora eles se agarram ao fato de que não comuniquei antes de 10 de junho, sendo que em 10 de junho estávamos disputando LaLiga, no meio dessa situação desse vírus de merda e dessa doença que alterou todas as datas. E por esse motivo é que vou ficar no clube. Agora vou continuar no clube porque o presidente disse que a única maneira de eu sair é pagando a cláusula de 700 milhões de euros, o que é impossível, e que a outra maneira seria acionar a Justiça. Eu não iria à Justiça contra o Barça nunca porque é o clube que amo, que me deu tudo desde que cheguei aqui, é o clube da minha vida, fiz minha vida aqui, o Barça me deu tudo e eu dei tudo pelo Barça, jamais passou pela minha cabeça levar isso à Justiça.
Goal: Isto foi o que mais doeu? Que há quem pensa que poderia ter lesado o Barça? São anos defendendo o clube e sendo a bandeira do FC Barcelona. Doeu que duvidem do seu barcelonismo?
Messi: Doeu muito que publiquem coisas contra mim, mas, sobretudo, que se publiquem coisas falsas. Que se chegasse a pensar que poderia ir na justiça contra o Barça para poder me beneficiar. Nunca faria algo assim. Repito, queria ir e estava no meu direito, porque o contrato me permitia. E não é 'vou e pronto'. Era vou e me custaria muito. Queria sair porque pensava em ser feliz nos meus últimos anos de futebol. Neste último não encontrei a felicidade no clube.
Goal: Isto é vital. Ser feliz. É um vencedor nato. Está em uma equipe que briga por títulos, e nestas últimas temporadas o Barça não foi competitivo a nível europeu. Vai continuar no Barcelona liderando a equipe, mas algo tem que mudar no clube, não? Algo terá que mudar a nivel esportivo?
Messi: Vou seguir no Barça e minha atitude não vai mudar por mais que tenha desejado sair. Vou dar meu melhor. Sempre quero ganhar, sou competitivo e não gosto de perder em nada. Sempre quero melhor para o clube, para o elenco e para mim. Disse a eles que naquele momento não daria para ganhar a Champions. Era verdade, agora não sei o que acontecerá. Há um treinador novo, uma ideia nova. Isto é bom, mas depois temos que ver como a equipe responde, e se nos dará o que for suficiente para competir. Posso dizer que fico e vou dar meu máximo.
Goal: No que pensou primeiro quando disseram que poderia sair e que na verdade não se importava com o Barcelona? O que passou pela cabeça, uma sensação de raiva?
Messi: Senti muita mágoa de que duvidassem de meu barcelonismo com toda a gratidão que tenho por este clube. Amo o Barça, e não encontraria um lugar melhor que aqui. Ainda assim tenho o direito de decidir. Queria buscar novos objetivos, novos desafios. No dia de amanhã poderia resolver voltar, porque aqui em Barcelona tenho tudo. Meus filhos, minha família cresceram aqui e são daqui. Não seria errado sair agora. Eu que precisava, o clube precisava, e era bom para todos.
GoalGoal: A família é muito importante em sua vida. Seu pai sofreu, sua esposa, seus filhos… O que lhe perguntaram? O que disseram? Falaram 'papai faça isso, papai faça aquilo'? Viam na televisão e lhe perguntavam?
Messi: Todo este tempo foi duro para todos. Sabia com clareza o que queria, já havia entendido e dito. Minha mulher, com a alma dolorida, me apoiava e acompanhava”
Goal: ...Mas o importante na família é o Mateo..
Messi: (Risos) “Sim, Mateo ainda é pequeno e não entende o que significa ir para outro lugar e refazer a vida em outra parte. Thiago sim, é mais velho. Escutou algo na televisão, ficou curioso e fazia perguntas. Não queria nem saber de irmos, ter que ir a uma nova escola ou fazer novos amigos. Chorava e dizia, 'não, não vamos embora', foi bem duro. Era compreensível. Falou isso tudo para mim. É muito difícil tomar uma decisão”
Goal: E para qualquer um seria. Claro, são 20 anos, uma vida toda. Chegou em Barcelona com a idade de seus filhos hoje. Isso torna ainda mais duro. Há duas coisas fundamentais que as pessoas querem saber… fica no Barça, volta a liderar o time… Tem uma mensagem otimista para o barcelonismo de olho no futuro?
Messi: Como sempre. Vou dar meu máximo, faremos o máximo para lutar por todos os objetivos e tomara que funcione e possamos nos dedicar à torcida, que sofreu. Também sofri neste ano, mas seria hipócrita dizer isso comparado a quem sofreu de verdade com o vírus, com quem perdeu familiares e quem perdeu muitas coisas. Tomara que consiga dar meu melhor e dedicar vitórias a todos que nos acompanham lá de cima e a seus familiares, para poder dedicar a quem ainda está sofrendo, e que possamos superar este vírus de vez e voltar à normalidade.
Goal: O famoso burofax. Falou-se muito que Messi está mal aconselhado e mal assessorado pela decisão se comunicar a intenção de sair por um burofax. Porque decidiu enviá-lo? O que queria demonstrar? Qual era sua postura?
Messi: O burofax foi para oficializar de alguma maneira. Durante todo o ano dizia ao presidente que queria ir, que chegara meu momento de buscar novos objetivos e rumos na minha carreira. Ele me disse o tempo todo: 'já falamos disso, que não, que isso, que aquilo', mas nada. O presidente não dava bola para o que dizia. Mandar o burofax era oficializar que queria ir embora, me liberava e confirmava que não ficaria o ano opcional. Não era para criar uma confusão ou ir contra o clube, e sim a maneira de tornar oficial, pois minha decisão já estava tomada.
Goal: Caso não tivesse enviado o burofax, talvez tudo se desse por esquecido e ninguém teria lhe escutado…
Messi: Claro. Se não mando o burofax é como se não tivesse acontecido, ficaria o ano opcional que tinha e permaneceria na temporada. O que dizem é que não falei nada antes de 10 de junho, mas, repito, estávamos na metade de todas as competições e não era o momento. Mas além do presidente, que sempre me falou que ‘quando terminasse a temporada você decide se fica ou vai’, nunca coloquei data, e, bom simplesmente era questão de oficializar ao clube que não ficaria, mas não foi para entrar em uma disputa, porque não quero brigar com o clube.