A Vila Belmiro lotou em 2 de outubro de 1974 para a despedida de Pelé. O Rei foi substituído ainda no primeiro tempo de um 2 a 0 sobre a Ponte Preta para que fosse ovacionado pelas arquibancadas. Era o ponto final de uma era no Santos, mas o maior jogador de todos os tempos ainda teria uma nova aventura na carreira.
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O ano de 1975 viu a chegada de Pelé nos Estados Unidos. Era a tentativa de fazer o futebol ter destaque no país que estava mais interessado em basquete, beisebol e na sua própria versão de futebol, o praticado na NFL. O Rei seria fundamental para que a então Liga Norte-Americana de Futebol (NASL), criada poucos anos antes, deslanchasse.
Quem começou a plantar a ideia na cabeça do brasileiro foi um britânico chamado Clive Toye, que desde 1971 vinha tentando convencer Pelé da aventura nos Estados Unidos. Ele era dirigente do New York Cosmos, time que pertencia à gigante Warner, que à época trabalhava com celebridades como Frank Sinatra, Bob Dylan e a banda Rolling Stones.
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No início o Rei não parecia dar muita bola, mas o dinheiro se mostrou necessário, já que ele vivia uma situação financeira complicada após investimento fracassado em uma fabricante de peças de borracha chamada Fiolax. Com dívidas e sem a conta bancária que muitos poderiam imaginar, Pelé fechou, então, um contrato muito bom, histórico.
Os relatos variam, mas a quantia era na casa dos 5, 6, 7 milhões de dólares por três anos, mais uma grande participação em todo marketing que envolvesse seu nome, mais um escritório no Rockefeller Center, um Cadillac e a garantia de que poderia manter seu patrocínio com a Pepsi-Cola.
E a coisa deu certo logo. Se em 1974 a liga tinha uma média de público abaixo dos 10 mil, a chegada de Pelé fez com que o Cosmos atingisse a marca dos 34 mil torcedores por partida. A final da Divisão do Leste de 1977 contra o Fort Lauderdale Strikers chegou a leva mais de 77 mil fãs ao Giants Stadium.
Na televisão a situação era a mesma, de pura euforia, com 10 milhões assistindo ao vivo sua estreia pelo Cosmos na rede CBS.
Neste momento de crescimento, a liga local se incrementou com a chegada de outras estrelas veteranas, com destaque para o brasileiro Carlos Alberto Torres, o português Eusébio, o alemão Franz Beckenbauer e o italiano Giorgio Chinaglia. Johan Cruyff, que havia anunciado a aposentadoria aos 31 anos vestindo a camisa do Barcelona, decidiu retornar aos gramados nos EUA.
E tudo isso ultrapassou o limite dos estádios. O Rei era uma celebridade na Nova York dos anos 1970, a época das discotecas, e segundo o escritor americano David Hirshey tornou-se um frequentador da famosa casa noturna Studio 54. A clientela ilustre do local contava com celebridades como Michael Jackson, Salvador Dali, Freddy Mercury, Elton John e Donald Trump. Pelé fez amizade com Muhammad Ali e foi retratado por Andy Warhol na metrópole.
"Pelé é um dos poucos que contradizem minha teoria: em vez de quinze minutos de fama, ele terá quinze séculos", disse o pintor e cineasta estadunidense.
Até mesmo o então presidente dos Estados Unidos se rendeu à majestade do Rei. Ronald Reagan recebeu o brasileiro em uma cerimônia na Casa Branca, honraria que poucos brasileiros não-políticos já receberam, e célebre frase: "Meu nome é Ronald Reagan, sou o presidente dos Estados Unidos da América. Mas você não precisa se apresentar, porque todo mundo sabe quem é Pelé".
Mas toda festa tem seu fim. Em 1º de outubro de 1977, o Rei se despediu do Cosmos em amistoso contra o Santos em que atuou um tempo em cada equipe diante de mais de 75 mil pessoas. Se no gol mil, Pelé pediu que ajudem as criancinhas, em seu discurso no adeus do time norte-americano ele disse: "Love, love, love".
Depois de 107 partidas e 64 gols, deixou os Estados Unidos campeão, com o título da liga daquele ano, mas, apesar de toda repercussão, a febre do futebol também esfriou em solo americano, e o esporte só voltaria a ganhar popularidade com a Copa de 1994.
Em seu adeus, o craque brasileiro resumiu sua passagem falando sobre amor. Foram só três campeonatos, mas o impacto é imensurável. Como chegou a estampar o próprio placar do estádio, Pelé era, definitivamente, 'The Man'.